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A democracia exerce-se continuamente 

 

Nestes primeiros dias de Setembro, vai uma correria por esses campos além. Dos currais de vinha exala um perfume forte e apetitoso a uva doce, madura, fruto de tantas canseiras e incertezas - “benza-as Deus!”.

Há um vai-vem contínuo de veículos que assinalam o volume de trabalhos nestes últimos dias de verão. Fazer vinho ou produzir algum milho para pão caseiro são dos poucos hábitos agrícolas que restam de uma sociedade rural em  transformação. 

Estão a acabar as festas “da costa”, onde as pessoas, nas adegas, celebram o sagrado e o profano, num convívio humanizado pela alegria e  entreajuda.

Alheios a projectos de poder e de mando, que há muito se espelham nas estradas, homens e mulheres desta ilha gerem suas lidas indiferentes às mensagens político-partidárias que daqui a um mês, sensivelmente, serão sujeitas a sufrágio.

De que valem promessas de mais isto e aquilo x 9, de renovação na continuidade, de protestos contra isto e aquilo, se nada se altera no cultivo e produção da terra, no erguer cedo em manhãs geladas de inverno para ordenhar vacas e tratar de animais; se no mar, os pescadores faça sol, chuva ou vento, têm de apanhar seu ganha pão, sem saber a que preço serão recompensados; se os jovens, mesmo com cursos universitários, vão continuar a não vislumbrar um futuro risonho, nem os idosos, conseguem um fim de vida agradável porque a solidão é uma doença sem cura...

A “ilha do futuro”, mesmo com uma série de empreendimentos realizados nos últimos anos nos sectores dos transportes e comunicações, nas pescas, na educação, no turismo, no ambiente, no apoio aos idosos e à infância, envelhece e descrê de promessas.

E que respostas novas e exequíveis oferecem os candidatos a deputados aos eleitores desta ilha, a segunda em dimensão, mas a quarta em população, para que os cidadãos acreditem em discursos inflamados, em slogans e promessas escritas?

O arraial publicitário que enfeita as estradas desta terra não significa participação, nem apela a uma maior intervenção cívica, tão necessária à escolha do destino colectivo. Denota sim disponibilidades financeiras dos partidos em tempos de crise, vaquidade e desajustamento de mensagens que se queriam apelativas à cidadania.

Nos últimos dias, os portugueses foram informados da presença dos senhores troikianos a quem se hipotecou o nosso destino e o nosso sofrimento, como se o país fosse um protetorado, uma colónia de um qualquer império absoluto, uma nação de incumpridores e mal-feitores.

Fiéis aos seus ditames e sem contestar os efeitos nefastos do programa imposto para a resolução da crise, os governantes ameaçam ainda com mais e gravosos sacrifícios, “custe o que custar”.

Quando governantes seguem a “voz do dono”, e não atendem ao incessante clamor dos mais fracos, nem às vozes ajuizadas de personalidades nacionais e internacionais que clamam por justiça e equidade, o mundo está na iminência de conflitos que, normalmente, redundam em grandes guerras. É este espectro que muitos começam a temer.

Nas próximas eleições regionais muito se vai jogar.

Mais do que saber quem perde e quem ganha fazendo do sufrágio uma luta de galos, importa envolver os cidadãos na resolução do seu próprio destino. Esta é a base da democraria – poder do povo – sem a qual não há poder legítimo.

A participação popular não deve restringir-se apenas ao voto no dia 14 de outubro. Deve continuar o exercício da cidadania na elaboração de planos e orçamentos participativos regionais, onde cada ilha e cada concelho tem legítimas aspirações e pretenções. Experiências do género vêm sendo realizadas, com sucesso, em concelhos como Lisboa ou em estados federais brasileiros.

A afirmação e o exercício da democracia não se compaginam com carreirismo político, com a sistemática contestação partidária, com propostas demagógicas, com o quero-posso-e-mando.

Em tempo de crise, a fronteira entre a democracia, a liberdade e o autoritarismo ditatorial é tão estreita que todos devemos zelar para que não se abra a mais pequena brecha, subestimando direitos, liberdades, a justiça, a verdade, a transparência e a dignidade humana.

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